Comunidades sustentáveis: uma revolução ecológica em potencial
As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pelo movimento da contracultura, reivindicação de direitos civis e revoluções culturais. Foi nesse contexto que surgiu o movimento hippie, que contestava os valores tradicionais da sociedade na época e defendia um estilo de vida muito marcado pela paz, o amor, a natureza e, é claro, a vida em comunidade.
Durante essa época, surgiram inúmeras comunidades que buscavam um estilo de vida alternativo, como por exemplo a Drop City, construída por artistas no Colorado, EUA, em 1965. O foco da comunidade era buscar um estilo de vida alternativo, focado na criatividade e longe do consumismo e do desperdício. Lá, foram construídos domos geodésicos feitos a partir de tetos de automóveis e outros itens reciclados. A energia era obtida através de painéis solares, e os alimentos eram cultivados pelos próprios moradores. Segundo Clark Richert, um dos arquitetos fundadores, o objetivo era que a Drop City servisse como um modelo para comunidades futuras ao redor do mundo. Porém, esse objetivo foi se perdendo quando a comunidade passou a atrair muitos turistas e visitantes temporários, levando ao seu fim alguns anos depois.
Nessa mesma época, também surgiram outras comunidades que também tinham o objetivo de promover a sustentabilidade e mudanças nos valores da sociedade, mas que foram muito mais desenvolvidas e bem planejadas. Por exemplo, em 1968 foi fundada a cidade de Auroville, localizada na Índia e que existe até os dias de hoje. Ela foi planejada de forma que houvesse grandes áreas de preservação da natureza e que as outras áreas, como moradia e trabalho, estivessem separadas umas das outras. As construções foram feitas com materiais locais e existem sistemas de reaproveitamento de água e de obtenção de energia solar, além de áreas coletivas para cultivo de alimento.
Já nos Estados Unidos, em 1970, o arquiteto Paolo Soleri criou o conceito de arcologia, a junção de ecologia e arquitetura. Com isso, ele estudou a construção de cidades sustentáveis, focadas no domínio ambiental em vez do domínio da estrutura, como uma resposta ao crescimento urbano acelerado. A cidade experimental construída por Soleri, Arcosanti, teve poucos moradores e não chegou a funcionar de fato como uma grande comunidade, mas hoje em dia é uma fundação focada no estudo da arquitetura e do urbanismo sustentáveis na região de Mayer, no estado do Arizona.
Ao observar os exemplos citados, é evidente que a popularidade das comunidades sustentáveis não resistiu ao tempo, e que ainda há muito para aprimorar e estudar para alcançar um modelo de vida em comunidade que seja bem-sucedido a longo prazo. Entretanto, com a crise ambiental que tem se agravado rapidamente, é muito interessante pensar na Arcologia não só como uma solução, mas como uma necessidade. Focar na natureza em vez das grandes estruturas e construções, na vida em comunidade, nas formas de economizar água e energia, são valores que se encaixam perfeitamente com o momento atual em que vivemos e os problemas que enfrentamos.
Seria possível colocar os ideais das comunidades sustentáveis no contexto atual das grandes cidades de crescimento acelerado da população e declínio do meio ambiente? Ainda é viável adotar esses valores e formas de viver em grande escala?
Algo que traz uma nova reflexão para esses questionamentos é o surgimento do solarpunk, movimento que explora as possibilidades do futuro, mas foge da distopia pessimista. O termo se tornou popular na Internet na última década, criando uma comunidade que compartilha o desejo de explorar soluções para alcançar uma civilização sustentável, integrando as tecnologias avançadas com a natureza. A filosofia do movimento baseia-se no otimismo e no emprego de energia renovável e tecnologias sustentáveis, manifestados através da ficção, da arte, da moda e do ativismo.
O solarpunk ainda é um movimento predominantemente fictício, mas trazer a sua forma de pensamento para a vida real pode ser algo esperançoso.
Solucionar as questões ambientais é algo que vai muito além de simplesmente buscar um estilo de vida alternativo e sustentável, pois é importante resgatar a mentalidade da mudança, da quebra de paradigmas e do otimismo. Somente dessa forma é possível fazer uma revolução.
Revisado por: Mara Gama
Imagens:
1 - Construção do Domo de Drop City / Carl Iwasaki / Getty Images.
2 - Drop City, Colorado, 1968, vista do "Rabbit Dome" / Fotógrafo desconhecido.
3 - Auraville / Abhishek Vyas / iStock.
4 - Arcosanti / Fotógrafo desconhecido.
5 - Croquis Arquitetônicos por Júlia Salzano.